O grande perigo do JOTI


JOTI significa Jamboree On The Internet, criado em 1996, por causa da popularização do acesso à Internet. Uma gincana mundial de fim de semana. Vantagens e desvantagens existem com relação a esse evento que coincide com o fantástico e consolidado JOTA Jamboree On The Air, que é através do radioamadorismo.

Fiquei bastante surpreso e muito cético com relação ao envolvimento das UELs nas últimas edições do JOTI. Escotistas se organizando para receber os jovens em casa, a busca de locais com conexão rápida de acesso à rede mundial, jovens virando o final de semana para cumprir as tarefas, etc. O JOTI tem pontos positivos: a ampliação massificada da presença do Movimento na rede e a forma como os jovens podem trabalhar em equipe. No mais, temos que analisar o evento e nossa postura com muita atenção e cuidado.

Assustei ao ver nas redes sociais nossos jovens, sentados no chão, de lenço, com o rosto brilhando com o reflexo das telas de laptops e celulares, buscando a próxima tarefa do JOTI ou postando a tarefa já cumprida. Não julguei ninguém, mas perguntas vieram à cabeça: será que nós, adultos, sabemos da forma como o uso constante dessas mídias podem causar problemas fisiológicos e psicológicos? Déficit de atenção, perda da capacidade de concentração, diminuição da criatividade, redução da cognição bilateral... Muitos são os problemas. Não é a toa que Bill Gates e Steve Jobs, por exemplo, limitavam o tempo de exposição dos filhos a computadores, celulares, tablets, phablets e todos os demais aparelhos eletrônicos.

O Escotismo pode ser uma solução para esses problemas causados pelo uso constante de tecnologia, bastam apenas 4 dias seguidos na natureza para que a capacidade de raciocínio seja ampliada entre 25% e 50%. O escotismo, se praticado ao ar livre, é uma opção de solução para redução do Déficit de Natureza.

Outra pergunta que me veio à cabeça: por que será que conseguimos nos organizar tão bem para uma gincana e não temos o mesmo sucesso, ou facilidade, ou nível de envolvimento para atividades ao ar livre? Ou será que temos? Realmente não sei, creio que não. Não vejo esse envolvimento no Brasil.

Será que o sucesso das bases do JOTI não está conectado à nossa competência de sair das paredes de concreto e ir para à natureza? Será que estamos prontos para atividades realmente progressivas e variadas ao ar livre? Será que o JOTI não mostra claramente a nossa zona de conforto?

Sinto que temos que ir em outra direção, sei que o JOTI é apenas uma vez por ano, usei o exemplo para mostrar a URBANIZAÇÃO do Movimento Escoteiro no Brasil. Outro exemplo claro é o programa educativo sênior, do ponto de vista pedagógico é quase perfeito, possui 75 etapas e menos de 25 são relacionadas a atividades na natureza.

Quando BP fundou o Movimento ele usou a palavras JOGOS e esses deveriam ser aplicados na natureza e ao ar livre. Jogo não é gincana de sábado a tarde. Estamos indo na contramão da solução. O mundo é cada vez mais virtual e devemos usar a tecnologia com sabedoria, equilíbrio e colocar intenção em nosso favor, mas com cuidado.

Estamos partindo e aceitando cada vez mais um Escotismo baseado em programas urbanos e não estamos percebendo. Não existem culpados, mas fica o ALERTA e o pedido de reflexão.

Não sou contra o JOTI uma vez por ano, o que quero dizer é: 1 - cuidado, não podemos incentivar o uso constante dessas tecnologias e 2 - devemos basear nossos programas com a natureza e vida ao livre como apelo principal. Ninguém vira escoteiro para acessar a internet e ficar em sede, eles querem acampar!

Não existe Wifi em uma mata ou em um rio, mas a “conexão" por lá que podemos oferecer aos jovens é muito mais profunda...


Edmilson M Fonseca
Escoteiro