Cicloexpedição Estrada Real - De Diamantina a Paraty

Da série ASA - AMORES, SABORES E AVENTURAS

O diário da nossa cicloexpedição pela Estrada Real em dez/2015 e jan/2016. Textos escritos no calor das emoções, com todos os sentimentos e sensações ainda borbulhando, como um bom diário deve ser...

CAMINHO DOS DIAMANTES - Percurso mais curto, porém com um grau de dificuldade maior, áreas mais remotas e cidades e vilarejos com menos estrutura.

CAMINHO VELHO - Percurso mais longo e mais visitado por turistas de todos os tipos. Nível de dificuldade um pouco menor, porém ainda com alto grau de exigência física.

Todas as fotos você encontra no álbum:


DIA 1 - 25/12/2015 - De Belo Horizonte a Diamantina 

Saímos de BH em direção a Diamantina no ônibus da empresa Pássaro Verde às 9:15h. Não tivemos problemas, pois as bicicletas estavam devidamente encaixadas, vimos outro casal ter que desmontar as suas bikes em cima da hora, pois a empresa não as embarca montadas.
5 longas horas com ônibus lotado e uma figura peculiar sentado atrás de nós, que batizamos de Louro José e conseguiu o feito de não parar de falar por nenhum minutinho sequer.
Pegamos um táxi para a Pousada Presidente, onde fomos muito bem recebidos em um ambiente familiar e hospitaleiro; o taxista ainda tentou cobrar um valor maior que o combinado na rodoviária, mas não colou, pagamos o combinado e seguimos (R$20,00).
Montamos as bikes - encaixamos os pneus, selins, guidãos, regulamos os freios (aqui começou a valer o investimento no curso prévio de manutenção de bikes) e instalamos o odômetro - descansamos um pouco, demos uma volta na cidade e procuramos algum local para comer. De cara encontramos o Pizza Fácil, lugarzinho direcionado ao delivery, mas com duas mesinhas fora, o que nos permitiu comer uma boa massa - excelente pedida para a véspera do início de uma cicloexpedição. A grande e feliz surpresa foi o cardápio com muÇarela escrito corretamente, isso mesmo, com Ç, como manda a regra e muito bem explicado no próprio cardápio. Arrasaram!





CAMINHO DOS DIAMANTES

DIA 2 - 26/12/2015 - De Diamantina a São Gonçalo do Rio das Pedras

E o pedal começou... E a Estrada Real mostrou a sua cara... E o bicho pegou!!! Mas, quem disse que seria fácil?
Começamos a pedalar às 10h, muitas coisinhas para afinar antes da partida, fechar equipo, montar bikes, calibrar pneus, procurar passaporte da Estrada Real - não achamos, todos os pontos de entrega em Diamantina estavam fechados -, seguimos...
Passamos pelos mais variados tipos de solo: calçamento histórico, barro batido, asfalto, cascalho... A descoberta do percurso, a falta de treino, de boa alimentação e de boas noites de sono dos últimos dias deixaram os primeiros 10km sofridos. Nessa hora a parceria, o controle emocional e o autoconhecimento fizeram a diferença e o pedal começou a fluir. Paramos em Vau, um vilarejo que fica a 26km de Diamantina e possui uma vila de apoio ao turista com pessoas acolhedoras, onde conseguimos comer algo, tomar café quentinho passado na hora e usar banheiros limpinhos. Decisão mais que acertada, pois, não sabíamos nós que, a partir dali, todas as subidas do mundo estariam a nossa frente. Parada para fotos na Ponte do Rio Jequitinhonha, lugar lindo! E mais 4km de subidas, daquelas que tentam lhe desmoralizar: íngremes, longas e escorregadias pelo cascalho; o segredo é não se afligir, não se sentir pressionado, seja humilde, desça da bike e as encare, mesmo sabendo que o sofrimento não diminui, afinal, você está de férias e tudo é diversão...
Decidimos parar em São Gonçalo do Rio das Pedras, apenas 33km de Diamantina. Precisamos descansar para tentarmos iniciar mais cedo amanhã com energia renovada, foi puxado...
Pizza maravilhosa à noite para renovar e ganhar energia, Pizzaria Quero Mais ganha o selo de "aprovada".
E amanhã tem mais! "Simbora" sofrer por esse mundão que é disso que "nois" gosta!



DIA 3 - 27/12/2015 - De São Gonçalo do Rio das Pedras a Alvorada de Minas

O dia iniciou na Pousada Refúgio dos 5 Amigos com um café da manhã simplesmente espetacular! Mineirinho e cheio de carinho, pão caseiro feito no forno à lenha, iogurte caseiro, queijo minas, café quentinho passado no pano, tudo de bom para começar bem o dia. Recomendamos!
O pedal iniciou tranquilo, barro batido até a cidade de Milho Verde, pertinho, um vilarejo charmoso, passamos rápido. E chegou o asfalto, e ele veio que veio, visual incrível a cada curva - viajar pedalando nos permite apreciar essas paisagens sob outro ângulo, sensação incrível - mas, afinal, estamos em Minas, na Estrada Real e, como dizem e estamos comprovando, é tudo cheio de sobe e desce e hoje não foi diferente, descidas divertidíssimas e subidas menos assustadoras, mas ainda precisamos descer das bikes e empurrar em algumas delas. Passamos por Três Barras, também pequena, e seguimos para Serro, onde paramos por mais tempo para comer e conhecer essa cidade cheia de história e gente simpática, lindinha demais! Atenção, existe a possibilidade de seguir de forma mais rápida evitando o centro desta cidade - não façam isso, essa visita vale a pena!
Aqui fechamos a primeira perna de 30km do dia, partimos para a segunda com mais 20km e mais visuais incríveis, descidas e subidas, chegamos a Alvorada de Minas às 14:30h e 50km rodados. Chegamos bem, daria para continuar, mas estava trovoando e o tempo estava ameaçando virar, então, por segurança, decidimos parar. O próximo trecho será em trilha e com alto grau de dificuldade, seria arriscado enfrentá-lo com tempo ruim (tempestade elétrica) e a noite caindo.
Fomos procurar uma pousada, uma aventura, era domingo, todo mundo dentro das suas casas, só gente bebendo em um ponto da rua e nenhum indício de nada. Quando já estávamos cogitando pedir abrigo na casa de alguém, descobrimos a Pousada Cardoso, um casarão antigo do antigo prefeito onde hoje mora a sua filha e aluga alguns quartos, lugar bem peculiar...
Agora é descansar...



DIA 4 - 28/12/2015 - De Alvorada de Minas a Tapera

Hoje foi um dia difícil, sabíamos que teríamos duas ou três pernas bem puxadas pela frente, nossa planilha indicava dificuldade física nível 5...
Vamos ao início deste episódio... Começamos a primeira perna de 17km já com muita subida e o visual ficando cada vez mais incrível, 360° de pura beleza! Chegamos a Itapanhoacanga bem cansados e não conseguimos nem água, parecia uma cidade fantasma, apenas algumas crianças na rua nos olhando como se fôssemos de outro planeta. Tivemos que seguir assim mesmo e, após mais uma subida sobrenatural, paramos para repor proteína e carboidrato e descansar 5 minutos, pois a próxima perna de apenas 14km também prometia.... E não era mentira, foi quase inacreditável a quantidade e dificuldade das subidas que passamos hoje, dos 30km, mais de 12km foram empurrando as bikes em subidas inimagináveis, foi chato, travado, sofrido, mas foi lindo assim mesmo... O visual é único e é o que fica no final...
Chegamos a Tapera após 6h de muito suor e sofrimento, decidimos não continuar pois a próxima perna é mais longa e, se for como essas de hoje, poderíamos não terminar bem, além de que, como todos os dias, o tempo ameaçava virar.
Tenham certeza, 10km rodados aqui são mais difíceis que 50km em qualquer trilha rotineira dos nossos fins de semana! Mas continua sendo incrível e amanhã tem mais! Não sabemos onde nem quando vamos parar, mas estamos indo... Devagar e sempre... "Enjoiando" cada sensação nova, seja ela de que tipo for...



DIA 5 - 29/12/2015 - De Tapera a Morro do Pilar

Hoje o dia foi simplesmente espetacular! Iniciamos com um friozinho mineiro "bão" que atrasou um pouco a saída, mas, estamos de férias e isso não é problema.
A primeira perna de 34km foi indescritivelmente sensacional, o giro fluiu e o visual durante todo o percurso foi cinematográfico, nos divertimos do início ao fim, muitas paradas para fotos e vídeos e nem uma troca de pneu tirou o nosso humor. Foi um pedal lindo e, hoje sim, nos sentimos na Estrada Real.
Paradinha rápida em Córregos, cidade de uma avenida com gente do bem que nos deu água e conversamos um pouco. A próxima parada foi em Conceição do Mato Dentro, cidade com um bom apoio para quem vinha de cidades bem remotas, calibramos os pneus, uma volta pelo centro, almoço bacana e um descanso rápido, afinal, estávamos bem, empolgados com a delícia de pedal do dia e o tempo estava perfeito. Entramos na segunda perna até Morro do Pilar, mais 28km de trilha igualmente linda, muita mata fechada, descidas técnicas, subidas, quase todas - e eu disse quase - transponíveis aos mortais, humanos e ciclistas. Foi uma vibe incrível em todos os 62km pedalados e desfrutados durante as mais de 9h pelo mundo.
Foi lindo, foi gostoso, foi divertido, foi prazeroso, foi compensador... Assim foi o dia de hoje...



DIA 6 - 30/12/2015 - De Morro do Pilar a Itambé do Mato Dentro

O pedal de hoje foi curto e sofrido novamente, apenas 36km sendo mais de 5km empurrando ladeiras acima em um calor de derreter os miolos de qualquer um. Nenhuma cidadezinha no meio do caminho, nenhuma casinha para reabastecermos água. O visual continuou lindo e no mesmo estilo de ontem com visão 360° nos topos das subidas. O detalhe ficou por conta dos bichos, a quantidade de animais soltos no meio do percurso é uma atração a parte, precisamos parar para tanger gado, cachorros nos acompanham em alguns períodos, porco gordo na beira da estrada, lagartas coloridas prontas para o Carnaval, gansos, iguanas, carcarás e maracanãs voam sobre nossas cabeças e até uma cobra cruzou o nosso caminho - foi isso mesmo que eu disse, uma cobra, aquele bichinho que eu tenho total asco e pânico, uma cruzou bem na minha frente e eu paralisei, quase infartei e precisei de um abraço para me acalmar, foi trash demais e o pior foi Edmilson rindo como se nada estivesse acontecendo, dizendo que era uma simples cobra cipó de 1,60m que eu quase atropelei... ai ai... 
Amanhã é reveillon e nós nem sabemos onde estaremos... Até lá!


DIA 7 - 31/12/2015 - De Itambé a Bom Jesus do Amparo

O dia hoje começou tarde, ontem estávamos muito cansados e paramos em uma cidade com pouca estrutura, fato não muito raro neste caminho que estamos fazendo. A cidade tinha uma vibe estranha e, ainda no final da tarde, faltou energia, só conseguimos comer algo em uma padaria sem muitas opções e agradecemos por encontrá-la, pois já passamos alguns perrengues "gastro e aguamente" falando; a noite de sono também não foi boa... Seguimos 14km de asfalto até Senhora do Carmo. Dizer que um visual incrível nos acompanhou está virando rotina... Lá paramos e conseguimos comer o nosso primeiro pão com linguiça (iguaria tipicamente mineira), depois mais 17km de trilha linda até Ipoema, volta rápida no centro, um sorvete na praça e mais 13km até Bom Jesus do Amparo, onde decidimos parar, pois já eram 16h e a próxima perna seria longa e remota, então decidimos não arriscar - decisão acertada, pois foi só conseguirmos uma pousada para a chuva grossa cair.
Pousada Real, super agradável e com gente do bem, cidade com uma estrutura legal. Na Igreja da Matriz existe a única imagem de Jesus criança, não conseguimos ver, a igreja estava fechada. Uma festa estranha na praça principal, uma olhada rápida e descansar que amanhã tem mais!
Desejamos a todos um Feliz 2016 com muita saúde e paz!





DIA 8 - 01/01/2016 - De Bom Jesus do Amparo a Mariana


Ano Novo passou e já estamos no mundo, às 19:15h saímos de Bom Jesus do Amparo seguindo os marcos da Estrada, passamos pela trilha mais poeticamente pedalada até agora, mata fechada com cheirinho de eucalipto, flutuamos sem conseguirmos dizer uma palavra sequer, mas com o silêncio exalando poesia... Navegamos bem até o quilômetro 15, quando chegamos à Rodovia Estadual MG129. O trecho está sendo duplicado e o marco da entrada para Cocais foi removido; perdemos a entrada e tivemos que seguir nosso caminho por ela. Trechos sem acostamento, motoristas imprudentes com o ciclista e risco real de acidente. Seguimos para Barão de Cocais, onde retomamos a trilha e seguimos para Santa Bárbara. Tivemos dificuldade na navegação devido à ausência de marcos na Estrada.

Por causa do acidente da Mineradora Samarco, os trechos de Bento Rodrigues e Camargos estão interditados, uma lástima em todos os sentidos. A nossa opção seria seguir pela MG movimentada por 54km, correndo riscos reais. Optamos por fazer este desvio de ônibus e tivemos mais uma aventura: nem o ônibus suportou as subidas e quebrou em uma delas. Ficamos parados em frente a uma estação da Vale na beira da estrada aguardando o mecânico, foi engraçado e serviu para observarmos um pouco o movimento nesta empresa... E assim chegamos a Mariana às 22h.






DIA 9 - 02/01/2016 - De Mariana a Ouro Preto


Conhecemos a cidade de Mariana e seu belo Centro Histórico pela manhã, vimos até uma Folia de Reis, muito bacana. Tudo pronto para seguirmos até Ouro Preto à tarde, entramos na estrada e com 3 minutos de pedal caiu uma tempestade de raios gigante em cima de nós, por sorte, conseguimos achar um posto de gasolina abandonado para nos abrigarmos, esperamos o tempo melhorar um pouco, mas os raios ainda continuavam. Voltamos para Mariana, almoçamos e continuamos medindo o tempo, até que, às 16:30h  conseguimos voltar a girar com segurança e seguimos para Ouro Preto, a chuva ainda caía fina, mas os raios já haviam passado. Começamos uma subida na saída de Mariana que só terminou no centro de Ouro Preto, para concluirmos este trecho cheio de aventuras e em grande estilo, foram 11km de subida sem um empurrãozinho nas bikes! Chegamos a Ouro Preto às 18h, depois de 2 dias intensos e cheios de peculiaridades, mas felizes pelas boas tomadas de decisões.

Primeiro desafio cumprido! Caminho dos Diamantes "ticado"! Caminho Velho, aqui vamos nós!






CAMINHO VELHO

DIA 1 - 03/01/2016 - De Ouro Preto a Santo Antônio do Leite

Aproveitamos Ouro Preto menos do que ela merece, é uma cidade realmente encantadora e cheia de charme. Pegamos os passaportes - não conseguimos no Caminho dos Diamantes - e caímos na trilha às 12:30h debaixo de uma chuva fina, um dia realmente molhado e proveitoso. Seguimos para São Bartolomeu pela estrada de carros; a trilha indicada pelos marcos nesse percurso e no de Glaura não é para ciclistas (segundo relatos e depoimentos de ciclistas amigos). Valeu muito a pena a decisão, a estrada de chão é linda, agradável e tem tudo que uma boa trilha por aqui tem.
São Bartolomeu é docemente cheia de carinho, a sua tradição nos doces é sentida na primeira prova, são fantásticos! Seguimos para Cachoeira do Campo e fechamos o dia em Santo Antônio do Leite, onde fomos recepcionados por uma tempestade repentina, mas, como uma providência divina, nos abrigamos em um bar onde o dono nos serviu um caldo quentinho e ainda nos indicou uma senhora que alugava quartos para ciclistas, tudo limpo, cheiroso, aconchegante e baratinho. Um abraço para a Sra. Tânia e o Sr. Geraldo. Tivemos o sono dos justos...


DIA 2 - 04/01/2016 - De Santo Antônio do Leite a Congonhas

Segundo dia e o giro começou cedo, saímos novamente embaixo de uma chuva fina que deixou as trilhas cheinhas de lama, foi sujo, mas foi massa! kkkkk... Passamos em Miguel Burnier, cidade tomada pela Gerdau, estradas e paisagens totalmente manipuladas. Lobo Leite foi a segunda parada, moradores tipicamente mineiros, daqueles que precisamos ouvir com atenção ou não entendemos o que eles falam, uma riqueza típica da região. Congonhas foi a última parada, aproveitamos para apreciar as obras de Aleijadinho e dar um trato nas bikes depois do lamaçal (os detalhes deste trato nas bikes será contado em outro episódio...)
Caminho Velho, "vem em nós" que fomos treinados no Caminho dos Diamantes, kkkkk...



DIA 3 - 05/01/2016 - De Congonhas a Lagoa Dourada

Hoje foi dia de girar, estamos mais condicionados e o sistema já está funcionando.
Em Congonhas ficamos hospedados na Pousada Pouso Café, do Sr Luisinho, indicação de um casal de ciclistas que encontramos pelo caminho. Gente boníssima, acolhedora e acostumada a receber ciclistas e turistas, uma riqueza de história e boas dicas para os desbravadores. As obras de Aleijadinho são a grande atração da cidade e aproveitamos para apreciá-las durante a manhã...
Seguimos para Pequeri, passando por Alto Maranhão, em uma trilha linda, depois fomos para São Braz do Suaçuí e de lá, para Entre Rios de Minas. As trilhas desses percursos são para serem vividas e sentidas, qualquer descrição não retrata o sentimento deste duro e fascinante percurso... Lagoa Dourada com sabor de rocambole foi o pouso de hoje, após 76km bem girados...


DIA 4 - 06/01/2016 - De Lagoa Dourada a Tiradentes

A saída de Lagoa Dourada é por um caminho de eucaliptos espetacular de lindo, tudo para você ganhar um fôlego para o que lhe aguarda logo a frente: piramba no melhor estilo Estrada Real, travessia de rios, single track, bike nas costas, subidas abduzíveis para outra dimensão, descidas com inclinação, cascalho, valas, curva fechada e abismo, tudo junto, e até uma cobra imensa, colorida e gorda, com cara de nada - isso mesmo, passei rente à cabeça dela, quase catatonizei...
Chegamos a Prados por volta das 14h. Precisávamos comer e descansar um pouco antes de seguir, não foi fácil. Prados tem o artesanato como característica principal, aí você diz "onde carimbo o passaporte?", "temos esta loja de artesanato aqui", "onde conseguimos comer alguma coisa aqui?", "temos esta outra loja de artesanato aqui"... Só tem artesanato! Depois de alguma procura, conseguimos um restaurante em um cantinho onde conseguimos almoçar, carimbamos os passaportes em uma pousada que fica no pé da nuvem dos ursinhos carinhosos de tão alto. Seguimos para Tiradentes e só seguimos porque merecíamos Tiradentes hoje, e ainda bem que seguimos. Bichinho, uma cidadezinha que fica no meio do caminho, é simplesmente linda e encantadora, ela sim tem artesanato e tudo o mais, mesmo sendo menor. Paramos e curtimos o astral da cidade um pouco, no final da tarde seguimos para Tiradentes, cheguei tão cansada que estava subindo lombada na coroinha... (Edmilson mandou dizer que ele chegou bem, subindo lombada no coroão, kkkkkk...)
Merecemos Tiradentes e toda a beleza que ela nos proporciona agora... Amanhã tem mais!



DIAS 5 E 6 - 07 e 08/01/2016 - De Tiradentes a Capela do Saco

o 5° dia de Caminho Velho foi de turista, ficamos curtindo e sentindo Tiradentes que é uma cidade cheia de charme, parada obrigatória pelo descanso físico e banho cultural. Permita-se sentir Tiradentes, é enriquecedor...
O 6° dia foi de girar, começamos o expediente cedo, fizemos a primeira perna de Tiradentes a São João Del-Rei, uma volta rápida nas belas pontes desta metrópole e seguimos para São Sebastião da Vitória - esta era a perna mais difícil do dia, 26km com 5% de inclinação nas subidas -, passamos com tranquilidade e chegamos bem. Almoçamos e seguimos para Caquende em uma trilha divertidíssima, 24km fluindo liiiiiiiindo... Foi show! A trilha acaba em um balneário lindíssimo e o visual vai mudando a cada quilômetro.
Atravessamos na balsa para Capela do Saco, onde montamos pouso. Chegamos cedo (15:30h), queríamos continuar, mas a próxima perna tem uma subida famosa pela inclinação e cascalhos, preferimos não arriscar, guardamos esta subida para o outro dia cedinho. Alugamos uma casa - isso mesmo, a dona de um bar que fica às margens do balneário aluga casas, com direito a pitangueira carregada no quintal, e ainda serve refeições e café da manhã -, carinho nas bikes, banho e um pôr do Sol sensacional... Foi como terminamos esta delícia de dia...


DIA 7 - 09/01/2016 - De Capela do Saco a Carrancas

Hoje o dia foi curto, enfrentamos a tão falada subida de Carrancas; ela é um pouco longa e o seu grande desafio são os cascalhos. Fomos na boa e, como já passamos por todo o perrengue do Caminho dos Diamantes, sem querermos parecer pedantes, passamos com tranquilidade e chegamos a Carrancas às 12:30h doidos para girar. Estávamos realmente empolgados por termos superado a Capela do Saco bem, almoçamos e descobrimos que não tinha como continuarmos, pois não teríamos nenhum suporte nos próximos 67km; Traituba - que fica a 30km daqui - foi abandonada há uns 4 anos e hoje é uma vila abandonada, não tínhamos como seguir sem tempo para um pneu furado ou uma chuva inesperada (coisa comum nas tardes daqui nesta época).
Tomada de decisão errada ontem, deveríamos ter continuado até Carrancas sem montar pouso em Capela do Saco. Perdemos um dia por causa disso.
Agora cá estamos, em Carrancas, doidos para girar! Como não deu hoje, vamos fazer o sacrifício de explorar a cidade... Amanhã tem mais!


DIA 8 - 10/01/2016 - De Carrancas a Cruzília

Para falar de hoje, temos que lembrar de ontem: chegamos a Carrancas ao meio dia e mais do que prontos para seguirmos para Traituba, porém logo descobrimos a ausência de apoio logístico por lá, leia-se um local para passar a noite e para comer. Resultado, paramos cedo e decidimos a Traituba e Cruzília devido aos 70km de isolamento.
Hoje saímos tarde por causa do café da manhã da pousada, 9:10h começamos a pedalar, muito tarde para um dia com a extensão que desejávamos girar.
O dia nublado ajudou no começo, deixou a temperatura mais agradável, mas logo o Sol apareceu e parecia estar maior, pois a sensação foi de esquentar o dobro do normal. Pedalamos bem, muitas subidas e descidas curtas deixaram o dia bem interessante. Logo percebemos que a decisão de ontem foi mais que acertada. No meio do caminho havia Traituba, uma fazenda construída para receber Dom Pedro I, visita esta que nunca ocorreu e que está fechada e serve como base para atividades agropecuárias.
Pedalamos 72km até Cruzília sem um ponto de apoio, com exceção de um bar simples no quilômetro 30, onde tomamos um refrigerante e fizemos um lanche com a comida que levamos do café e sobra da pizza do jantar de ontem. Ficamos praticamente sem água, apesar dos 5 litros de autonomia, com sinais e sintomas de desidratação leve e insolação, normal para o tamanho da balada.
Em Cruzília achamos um local para comer, já eram 16h. Fizemos uma rápida avaliação do dia e decidimos parar por hoje.
Foi longo, foi bonito, foi difícil, foi bacana. Estrada Real, você é Sensacional!


DIA 9 - 11/01/2016 - De Cruzília a São Lourenço

E o pedal já está com ritmo e clima de nostalgia, está acabando... Nostalgia + Edmilson depois de um relaxante muscular + chuva = ritmo um pouco mais lento e muito mais divertido!
Lavamos e lubrificamos as bikes e caímos nas trilhas em direção a Beapendi, muita lama traduz todo o percurso, é massa demais ter um desafio diferente a cada dia. Beapendi foi a primeira cidade onde o carimbo no passaporte da Estrada Real não estava em uma pousada ou restaurante; estava na Igreja de Nha Chica, primeira igreja de todas que passamos que estava aberta e era gratuita, podem acreditar. Já tínhamos ouvido falar nela em São João Del-Rei e fomos conhecer mais sobre a história da Santa de Beapendi. Linda a história, a casa onde ela morou, o santuário e a igreja que ela construiu, tudo com tanto cuidado e carinho que deu até vergonha de estarmos lá cheios de lama, mas as pessoas não estavam nem aí, todas simpáticas e solícitas acima do normal.
Em Beapendi ainda tivemos uma experiencia gastronômica que foi para a caixinha dos sabores inesquecíveis: torta indiana com gostinho de canela, café quentinho, uma chuvinha lá fora e Chimarruts ecoando Versos Simples na mente... Momento sublime que será lembrado por toda a eternidade...
Caxambu foi o segundo destino, visita ao Parque das Águas e mais lama até São Lourenço, cidade maior do que imaginávamos, também conhecida pelo seu Parque das Águas e onde montamos pouso, metrópole charmosa para uma boa noite de descanso.



DIA 10 - 12/01/2016 - De São Lourenço a Passa Quatro

O 10° dia de Caminho Velho também começou lento, muita chuva e lama pelas trilhas, ainda mais que ontem. Edmilson escorregou logo no início e ficou sentindo o dedo da mão direita. Almoçamos em Pouso Alto, cidade charmosa! Tentamos bater um raio x do dedo, mas não deu muito certo, faltavam médico e estrutura na cidade, foi até engraçado analisar aquele ambiente um tempo... O dedo melhorou com gelo e seguimos. Mais lama, mas muita lama, mas muito mais lama mesmo!!! São Sebastião do Rio Verde, Capivari, Itanhandu e o pouso em Passa Quatro, segunda vez que passamos por aqui nos últimos 4 meses e só chove, só chove...
Está acabando... Mas amanhã tem mais!


DIA 11 - 13/01/2016 - De Passa Quatro a Guaratinguetá

Hoje o dia começou molhado, lento e cheio de lama novamente, uma chuvinha fina insistia em nos acompanhar. Os primeiros 8km foram bem travados até a Garganta do Embaú, mas, logo depois da divisa MG/SP, descemos por quase 10km e o clima e visual foram mudando como em um passe de mágica. Paramos no meio para olharmos as suas variações, uma montanha fria de um lado e outra quentinha do outro, peculiaridades que só a mãe natureza nos proporciona... Até uma plantação de girassóis nos encontrou neste caminho, foi fantástica a descida!
Seguimos para a Vila do Embaú e de lá, como o dia seria curto e aparentemente tranquilo, esticamos um pouco até Cachoeira Paulista. Almoçamos e fomos conhecer a Canção Nova, lugar maior do que imaginávamos e muito preparado para receber turistas católicos, um complexo bonito e muito organizado. Valeu muito o turismo religioso. Recomendamos!
De lá, seguimos até Guaratinguetá, nosso pouso de hoje. Sair do sossego da parte remota da Estrada Real e cair no asfalto em SP foi um susto que me deixou até nervosa, caminhões, barulho... Estávamos realmente desacostumados com isso tudo... Visita à Casa de Frei Galvão para continuar no clima do turismo religioso e mais um carimbo nos passaportes. 
E a Estrada Real está quase chegando ao fim... Amanhã começamos a última e famosa subida para Cunha, será que esta aventura dura mais um dia ou dois? Só amanhã saberemos... Até lá!


DIA 12 - 14/01/2016 - De Guaratinguetá a Cunha

Inicialmente, tínhamos planos de tentarmos fazer este trecho em um dia só, sabíamos que era muita subida. Decidimos tentar mesmo assim, mas, a chuva torrencial que caía lá fora quando acordamos e que durou a noite toda em Guaratinguetá nos fez desistir e só conseguimos iniciar o pedal às 11h da manhã. Saímos com uma chuva fina ainda, o trecho é todo de asfalto com acostamento e inicia-se leve nos 10 primeiros quilômetros, quando começa a tão famosa e temida subida de Cunha; uma subida longa que nos leva de 550 a 1100m de altitude, mas "pedalável". Chegamos a Cunha, 4h depois, mais inteiros do que imaginávamos.


DIA 13 - 15/01/2016 - De Cunha a Paraty

O ÚLTIMO EPISÓDIO
Começamos o último dia da trip bem cansados, as pernas estavam sentindo a subida do dia anterior - a título de condicionamento, talvez, tivesse sido menos sofrido se tivéssemos continuado no dia anterior, se o tempo tivesse ajudado, esta esfriada nas pernas foi sofrida. Seguimos devagar e com paciência tendo cada subida como desafio final. Neste dia saímos de 900 para 1500m de altitude, também só asfalto, mas desta vez sem acostamento, a chuva ia e vinha. Seguimos, visual lindo, curtíamos cada giro por ser o último dia, uma mistura de sensações, vontade de concluir o desafio misturado a de não querer que ele acabasse... Uma Cachoeira (Mato Limpo) na beira da estrada, linda! Parada Obrigatória! Mais alguns quilômetros e chegamos à divisa dos Estados de SP/RJ - a partir daí, só alegria! Uma estrada de blocos de pedra em excelente estado e uma descida de guardar no coração como a linha de chegada de uma grande competição, 15km descendo até o nível do mar, um merecido prêmio para quem se propôs ao desafio da Estrada Real, estrada esta que está tatuada em nossos corações... Completamos a Estrada Real de Diamantina a Paraty. E é com os olhos mareados e o coração apertado que constatamos: Paraty é linda demais! 

 

Agora é voltar aos pedais do dia a dia com um novo parâmetro em relação ao que sejam subidas e lama,  procurando marcos históricos no meio do caminho por instinto e entendendo muito mais sobre a grandiosidade da vida diante da pequenez do ser humano...

ESTRADA REAL - O CICLOTURISMO MAIS DIFÍCIL DO BRASIL!

24 dias de viagem;
20 dias de expedição;
19 dias pedalados;
1000km girados (61km empurrando ladeira acima);
494km de subidas;
24.111m de altimetria acumulada nestas subidas;
3 estados visitados;
55 cidades;
1 milhão de novos sabores;
1 tonelada de sorrisos;
1 infinidade de histórias e sentimentos guardados na alma...

Há quem acredite sermos loucos, mas, "louco é quem me diz e não é feliz".


Trailer da Viagem no You Tube