A síndrome da superioridade ilusória e o Escotismo



O bacana do Movimento é viver aprender e aprender fazendo, mesmo que seja um adulto. Fico feliz em perceber “sinais e sintomas” de um presente programa de formação de líderes num futuro próximo. A própria WOSM na última conferência destacou a formação de liderança em sua resolução na Eslovênia em 2014, veja o link aqui

Uma das principais habilidades de líder, seja ele escoteiro ou não é a auto-percepção. Acredito e vejo em nossas expedições, como educador ao ar livre, que podem ser sim desenvolvida. Ter auto-percepção seria o ideal, saber e notar como suas ações afetam suas relações interpessoais e como podem afetar aqueles outros que estão em seu círculo. O oposto seria uma grande ignorância.

“Só sei que nada sei” de Sócrates (o filosofo grego). À medida que vamos ganhando mais e mais experiência sobre determinado assunto, vamos percebendo que ainda temos para aprender.

“Charles Darwin disse que “a ignorância gera mais frequentemente confiança do que o conhecimento”. Ou seja, quanto menos sabemos sobre algo maior a tendência para pensarmos que sabemos tudo.

No século XX, o filósofo inglês Bertrand Russell escreveu: "O problema com o mundo é que os estúpidos são excessivamente confiantes, e os inteligentes são cheios de dúvidas”

Descartes falou "Daria tudo que sei por metade do que ignoro"

Dunning e Kruger dois psicólogos da Universidade de Cornell pesquisaram sobre o assunto e chegaram a essa hipótese conhecida como o efeito Dunning-Kruger. Para os dois este fenômeno é um distúrbio cognitivo onde pessoas que possuem pouco conhecimento sobre um determinado assunto acreditam saber mais que outros mais bem preparados, porém esta própria incompetência os limita da habilidade de perceber as próprias falhas. Estas pessoas sofrem de superioridade ilusória.Num planeta onde a forma se valoriza mais do que o conteúdo a gente pode terminar contratando ou seguindo os conselhos de um suposto especialista "incompetente" que parece saber muito, tomando decisões erradas e chegando a resultados horríveis.

Os portadores dessa síndrome receberam de Dunning o querido apelido de “idiotas confiantes”. “Os incompetentes são frequentemente abençoados com uma confiança inadequada, afiançada por alguma coisa que, para eles, parece conhecimento.”

Essas pessoas têm problemas em:
  • reconhecer sua própria falta de habilidade e as suas limitações; 
  • reconhecer as habilidades genuínas em outras pessoas, pessoas que não escutam; 
  • reconhecer a extensão de sua própria incompetência; 
  • reconhecer e admitir sua própria falta de habilidade, depois que forem treinados para aquela habilidade. 
Os genuínos especialistas dificilmente se referem a eles como tal e são muito mais modestos do que aqueles de superioridade ilusória.

Os verdadeiros especialistas sabem que ainda têm um longo caminho a percorrer até o serem, se é que algum dia o serão. Sabem que haverá sempre quem seja melhor e pior do que todos nós em todas as atividades e que, por isso, devemos evitar os rótulos.

Todos nós reconhecemos ou vivenciamos uma situação semelhante. Afinal, quem nunca se deparou com alguém, totalmente ignorante em alguma área do conhecimento, que nunca leu nada sobre o assunto, agir como um sábio e tentar refutar ou debater ideias bem estabelecidas, conhecidas e elaboradas por estudiosos e talentosos especialistas?

Isso em educação é um clássico, muitos profissionais muito reconhecidos são péssimos professores, acontece que o fato de conhecer os conteúdos da sua área de estudo não faz deles especialistas em educação e muito menos bons professores.

Vivemos na sociedade do conhecimento e no império da complexidade onde o todo de qualquer cenário de atuação é muito mais do que a somatória das partes, e o conhecimento é considerado como algo transitório. Por esse motivo, esta sociedade tem como característica fundamental a reflexão, que é considerada como uma porta aberta a mudança e ao reconhecimento de que o que ontem dávamos por sabido amanha pode ser considerado um completo erro.

Ou o que é bom e certo num contexto pode ser um completo desastre em outro contexto, algo que os ignorantes de plantão nem sequer reconhecem já que não desenvolveram a sua capacidade de reflexão.

Uma sociedade onde o diálogo, a capacidade de escutar e de duvidar são os métodos por excelência para crescer e aprender a aprender; quando nos abrimos a escutar e a refletir é como se pedíssemos emprestada a mente dos outros cheia de conhecimentos e experiências para nos enriquecer.

Lamentavelmente possuir um título, seja de uma universidade nacional ou estrangeira reconhecida não configura nenhuma garantia de conhecimento, e o que é pior encontramos muita gente ocupando cargos de altíssimo nível que não entendem do que falam e que ficam possuídos com gente que pensa diferente, os ignorando e até combatendo.

Existem hoje muitos profissionais de palco como diz Felipe Machado, que são bons para apresentações, emocionam e cativam o público, mas que em muitos casos não teriam conteúdo a agregar além de frases de efeito e ideias vazias.

Existem também aqueles que recebem títulos e cargos assim entram na mesma categoria. Trazendo para dentro do Escotismo, somos nós os adultos, os chefes, os Diretores e eles, os Presidentes, muitos de nós com a superioridade ilusória por ter um cargo ou ser IM. Devemos ter cuidado, o movimento não é para nós mas sim para eles, os jovens. Clamo a combater com classe, educação e inteligência a superioridade ilusória dos nossos dirigentes. Não tenham medo de questionar, não tenham receio de perguntar, não tenham medo de sugerir e acima de tudo, aprendam um pouco de contabilidade e não sejam enganados.

Uma coisa é certa somos todos aprendizes e mestres, ao mesmo tempo, quando nos encontramos com profissionais cheios de si que se apresentam como gênios é um bom momento para começar a duvidar já que ninguém, ninguém sabe tudo.

Uma das qualidades mais importantes de um profissional hoje é aprender a aprender e isso só se consegue com humildade, aprendendo a escutar.

Edmilson M Fonseca
Escoteiro


Adaptado/Copiado/Baseado no texto de Dr Daniel L.